terça-feira, 24 de agosto de 2010

Depressão, Análise clínica


A maioria dos pacientes com diagnóstico de depressão falam sobre a presença de um estado permanente de "vazio" ou tristeza pode ser também que o paciente não tenha exatamente esses sintomas, mas relate casos mais envolvidos na perda psicomotora, perda da capacidade de obtenção de prazer na realização na maioria das atividades recreativas e cotidianas. Frequentemente associa-se à sensação de fadiga ou perda de energia, caracterizada pela queixa de cansaço exagerado.

Sintomas psíquicos relacionados à depressão descritos por Kraeplin, oitava edição:

"• Humor depressivo: sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimentos de culpa.

Os pacientes costumam aludir ao sentimento de que tudo lhes parece fútil, ou sem real importância. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir alegria ou prazer na vida. Tudo lhes parece vazio e sem graça, o mundo é visto "sem cores", sem matizes de alegria. Em crianças e adolescentes, sobretudo, o humor pode ser irritável, ou "rabugento", ao invés de triste. Certos pacientes mostram-se antes "apáticos" do que tristes, referindo-se muitas vezes ao "sentimento da falta de sentimentos". Constatam, por exemplo, já não se emocionarem com a chegada dos netos, ou com o sofrimento de um ente querido, e assim por diante.

O deprimido, com freqüência, julga-se um peso para os familiares e amigos, muitas vezes invocando a morte para aliviar os que o assistem na doença.

São freqüentes e temíveis as idéias de suicídio. As motivações para o suicídio incluem distorções cognitivas (perceber quaisquer dificuldades como obstáculos definitivos e intransponíveis, tendência a superestimar as perdas sofridas) e ainda o intenso desejo de pôr fim a um estado emocional extremamente penoso e tido como interminável. Outros ainda buscam a morte como forma de expiar suas supostas culpas. Os pensamentos de suicídio variam desde o remoto desejo de estar simplesmente morto, até planos minuciosos de se matar (estabelecendo o modo, o momento e o lugar para o ato). Os pensamentos relativos à morte devem ser sistematicamente investigados, uma vez que essa conduta poderá prevenir atos suicidas, dando ensejo ao doente de se expressar a respeito.

Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis. As pessoas deprimidas podem relatar que já não se interessam pelos seus passatempos prediletos. As atividades sociais são freqüentemente negligenciadas, e tudo lhes parece agora ter o peso de terríveis "obrigações".

Fadiga ou sensação de perda de energia. A pessoa pode relatar fadiga persistente, mesmo sem esforço físico, e as tarefas mais leves parecem exigir esforço substancial. Lentifica-se o tempo para a execução das tarefas.

Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões. Decisões antes quase automáticas parecem agora custar esforços intransponíveis. Um paciente pode se demorar infindavelmente para terminar um simples relatório, pela incapacidade em escolher as palavras adequadas. O curso do pensamento pode estar notavelmente lentificado. Professores experientes queixam-se de não conseguir preparar as aulas mais rotineiras; programadores de computadores pedem para ser substituídos pela atual "incompetência"; crianças e adolescentes têm queda em seus rendimentos escolares, geralmente em função da fatigabilidade e déficit de atenção, além do desinteresse generalizado."

Na parte fisiológica o que pode ocorrer é a alteração no sono, com insônia intermediária(acordar durante a noite) ou intermédia(acordar mais cedo durante a manhã). Também ouvem-se queixas de insônia durante o dia por parte dos pacientes. Alteração na libido também é muito comum em pacientes com depressão, havendo assim dificuldade numa relação sexual por dificuldades na obtenção do prazer por parte do praticante. Alteração do apetite também é um dos sintomas da depressão, podendo haver desnutrição do doente, que muitas vezes sente muita difucldade na realização da alimentação.


fonte:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44461999000500003&script=sci_arttext&tlng=en


Postado por: Pedro Marcos C Moscardini

Depressão, uma breve introdução


Muito falada e estudada mas ainda não totalmente compreendida, a depressão é considerada por muitos estudiosos da área como a doença do século XXI, pois de acordo com as estimativas, cerca de 15 a 20% da população mundial sofre com a doença, ( Depressão. Portal Banco de Saúde. 2008). Vale notar também que a depressão apesar de ser a doença do século XXI, estava presente notavelmente nas sociedade antigas e modernas na forma de outros nomes como banzo para os afrodescendentes trazidos como mão-de-obra escrava durante o período de expansão das potências européias no século XVII-XVIII. Outro caso de depressão relatado por antigos estudiosos eram das mulheres atenienses que se encontravam confinadas em suas casas. A depressão no passado não foi apenas estudada, mas relatada em forma de arte pelo pintor Vincent Van Gogh com a pintura "Aos portões da eternidade" literalmente traduzida que foi feita alguns dias antes do pintor se matar.

História e relatos de depressão no passado

400 a.C
Os gregos passam a explicar a depressão como uma doença física
Antiguidade
O problema é considerado um sintoma de possessão demoníaca

200-150 a.C.
Aparecem as primeiras descrições clínicas da depressão no Império Romano

1621
O sacerdote inglês Robert Burton publica o tratado "A Anatomia da Melancolia"

1637
René Descartes introduz a idéia de corpo e mente separados, base da teoria sobre a depessão

1796
É aberto na Inglaterra o Retiro York, hospital para tratamento moral em vez de médico

1800-1900
Século do manicômio. As instituições são vistas como cura para todos os males

1900
Sigmund Freud esboça seu trabalho embrionário sobre a psicanálise

1920-1930
Experimentos físicos brutais são testados em pacientes como forma de cura

1935
A primeira lobotomia frontal é realizada em um indivíduo deprimido

1962
Ken Kesey lança "Um Estranho no Ninho", romance que marca o fim da era dos tratamentos abusivos


Antes de começarmos a entender bioquimicamente e os aspéctos mais profundos desta doença, devemos começar com a pergunta: O que é depressão?

Para respondermos esta perguntas, primeiro devemos analisar os conceitos mais superficiais da doença e depois irmos aprofundando

De acordo com o dicionário online dicionárioweb a palavra significa:

Fig. Abatimento; enfraquecimento físico ou moral; desânimo; esgotamento.

Outra citação encontrada no site “virtualpsy.locaweb.com.br”(adaptada) interessante é a de que a depressão é uma doença do organismo todo , que compromete o orgânico físico ,o afeto e o pensamento, levando à perdas nas capacidades psicomotoras, vegetativas e cognitivas. A depressão enquanto doença pode surgir nos mais variados quadros clínicos, como em: estresses pós traumáticos, demência, esquizofrenia e alcoolismo; podendo ocorrer também como respostas à situações de grande estresse ou perda

É importante dizer também que a depressão como síndrome não se trata da mazelas cotidianas ou de estados temporários de infelicidade, mas sim de um caso patológico sério, que deve ser resolvido ou pelo menos amenizado através da psiquiatria e da medicina em geral sendo importante, que se vá ao médico caso sejam notados.

Finalmente, enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado. Entre os quadros mencionados na literatura atual encontram-se: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc. A depressão é conhecida pelos sintomas descritos como apatia, irritabilidade, perda de interesse, tristeza, atraso motor ou agitação, idéias agressivas, desolação e múltiplas queixas somáticas (insônia, fadiga, anorexia). Seu diagnóstico é facilitado pela presença dos sintomas e por um bom conhecimento teórico. Porém, sua dinâmica, suas origens, suas relações objetais e suas concepções ainda podem levantar questionamentos e levar a interpretações equivocadas prejudicando um possível tratamento.


Fontes do post:

http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=209&sec=39

http://pt.wikipedia.org/wiki/Depressão_nervosa

http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/view/7660/5463

http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942006000300012&lng=pt&nrm=

http://www.adepressao.com/historia-da-depressoa.html

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44461999000500003&script=sci_arttext&tlng=en

Postado por Pedro Marcos Coelho Moscardini

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um estudo para diagnosticar a esquizofrenia..



O primeiro passo na direção da descoberta de uma proteína que sirva para diagnosticar a esquizofrenia foi dado por pesquisadores brasileiros. Eles acabam de identificar pelo menos sete compostos claramente associados à doença. Para chegar a esse seleto grupo, milhares de proteínas precisaram ser analisadas. Os cientistas afirmam que agora é necessário um minucioso trabalho de validação dos resultados.

A esquizofrenia é conhecida há mais de um século, mas, apesar disso, até hoje seu diagnóstico é feito apenas com base em observaçãos de sintomas pelos médicos. “Há muito tempo que se busca um componente químico que possa evidenciar a existência da esquizofrenia”, diz o bioquímico Daniel Martins-de-Souza, atualmente pesquisador do Instituto Max Planck, na Alemanha.

Martins-de-Souza investigou duas regiões cerebrais – o córtex pré-frontal e a área de Wernicke – de 10 esquizofrênicos e comparou o que viu com observações do cérebro de 10 pessoas sem nenhuma complicação mental ou neurológica.

Também foi avaliado o lobo temporal de cinco pacientes esquizofrênicos e cinco pessoas do chamado grupo controle (pessoas sem a doença). “O número de amostras parece pequeno, mas se deve considerar a dificuldade de se conseguir tecido cerebral dos pacientes e controles”, pondera o pesquisador.

Os resultados permitiram identificar 130 proteínas potencialmente ligadas à manifestação da esquizofrenia. “Algumas das novas proteínas reveladas foram a PEBP1, a cristalina, que é uma proteína associada ao ácido hialurônico, e um transportador de cálcio de membrana”, conta o bioquímico. Ele explica que essas proteínas estavam presentes em quantidades diferentes no cérebro dos esquizofrênicos analisados.

Validação dos resultados
A pesquisa foi conduzida durante o doutorado de Martins-de-Souza, no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), sob orientação do bioquímico Emmanuel Dias-Neto e do psiquiatra Wagner Gattaz, e no Departamento de Bioquímica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob orientação do biólogo José C. Novello.

Agora, os pesquisadores buscam mais material de estudo para poderem afirmar que existem marcadores biológicos da esquizofrenia. “Nosso grupo e outros grupos mundo afora têm buscado a validação desses resultados”, conta Martins-de-Souza.



Biomarcadores para esquizofrenia

http://cienciahoje.uol.com.br/view-materia-by-id/145152

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ponto de vista Bioquímico da Esquizofrenia

Existem duas hipóteses que explicariam o ponto de vista bioquímico:


Hipótese dopaminérgica:




A hipótese dopaminérgica da esquizofrenia baseia-se em dados que demonstram de forma inequívoca que as drogas antipsicóticas, conhecidas como neurolépticos, reduzem a transmissão dopaminérgica no SNC.
As principais vias dopaminérgicas envolvidas nas ações dos neurolépticos são o sistema mesotelencefálico e o sistema diencefálico. O sistema mesotelencefálico divide-se em três vias: a primeira é a via nigro estriatal, que vai da substância negra do mesencéfalo (núcleo A9) até os núcleos caudado e putamem (estriado dorsal), no telencéfalo; a segunda é a via mesolímbica, que se origina na parte ventral do tegmento mesencefálico (núcleo A10), vizinho à substância negra, e termina em diversos núcleos subcorticais do telencéfalo pertencentes ao sistema límbico tais como o núcleo accumbens (esriado ventral), o septo lateral, a amígdala e o tubérculo olfatório; a terceira e a via mesocortical. Anatomicamente, é de difícil distinção entre esta última e a via mesolímbica, pois a via mesocortical origina-se no mesmo grupo celular do tegmento ventral do mesencéfalo e projeta-se em áreas corticais - córtex frontal medial, parte anterior do giro do cíngulo e córtex temporal medial - que se relacionam com estruturas límbicas. O sistema diencefálico é constituído por vias curtas, sendo a mais importante, no que se refere ao modo de ação dos neurolépticos, a via túbero-infundibular, que vai do núcleo arqueado até a eminência média do hipolálamo.
Além das diferenças anatômicas, outras evidências apontam diferenças funcionais entre as diversas vias dopaminérgicas atestando, portanto, a heterogeneidade de populações de células nervosas que contêm dopamina (DA), como da ação de drogas antipsicóticas clássicas, que induzem a um bloqueio de despolarização ou inativação da maioria das células A9 e A10, que se projetam para o sistema límbico. A neurotoxina MPTP (metil-fenil- tetrahidropiridina) que causa uma síndrome do tipo parkinsoniano em primatas, diferencia entre células dopaminérgicas A9 e A10, enquanto as primeiras são destruídas pela toxina as últimas não são significativamente afetadas.
A ação dos neurolépticos se deve ao bloqueio dos receptores dopaminérgicos, o que levou à formulação da hipótese dopaminérgica, sugerindo que o hiperfuncionamento da transmissão dopaminérgica no SNC esteja subjacente à esquizofrenia.
São estes seus principais pontos :
A capacidade de agonistas dopaminérgicos indiretos, tais como a anfetamina e a cocaína, em dar origem ou exacerbar os sintomas psicóticos.
Os neurolépticos promovem um aumento dos níveis do ácido homovanílico (AHV), produto da degradação enzimática da DA no cérebro, sem contudo, alteraram os níveis de DA no tecido nervoso. Este efeito reflete a aceleração da taxa de metabolização e de renovação (turnover) da dopamina, que é uma resposta adaptativa compensatória ou de retroalimentação negativa ao bloqueio dos receptores pós-sinápticos dopaminérgicos, por disponibilizá-los por menos tempo nas sinapses.
Tem-se demonstrado de forma inequívoca que vários agentes anti-psicóticos apresentam alta afinidade por receptores dopaminérgicos do tipo D2 através da medida de sua capacidade em deslocar o haloperidol radiomarcado ou seu derivado mais potente o espiroperidol. Atualmente isto já pode ser demonstrado em sujeitos humanos usando a tomografia computadorizada baseada na emissão de pósitrons (PET) ou fótons (SPECT). Alguns estudos indicam existir uma correspondência significativa entre esta propriedade dos antipsicóticos e sua potência clínica.
Vários relatos indicam um número elevado de receptores D2 em cérebros esquizofrênicos tanto "post-mortem" com "in vivo". Embora não se possa excluir a influência da medicação neuroléptica, que induz proliferação destes receptores, o fenômeno também foi constatado em cérebros de alguns pacientes não tratados com estas drogas.
As diminuições de armazenagem do neurotransmissor, através do esgotamento pela reserpina ou por inibição da síntese de dopamina por meio da lfa-metilparatirosina, também diminuem as manifestações da psicose.
A excessiva liberação de dopamina está envolvida na patogênese da esquizofrenia, sua liberação induzida por anteramina ou 1-DOPA, podem determinar ou agravar condições psicóticas de vários tipos tais como estados delirantes, mania e distúrbios de tipo esquizofrenia paranoíde. Posteriormente, a influência da dopamina foi delimitada aos sintomas positivos da doença (alucinações, delírios, pensamento incoerente e afeto incongruente), que são característicos dos surtos agudos, já os sintomas negativos (embotamento afetivo, pobreza de linguagem e perda da iniciativa), que ocorrem na fase crônica da doença, não respondem aos medicamentos antidopaminérgicos. Investigações efetuadas em cérebros de esquizofrênicos mostraram um aumento dos receptores D2. Estudos efetuados com tomografia computadorizada, revelaram uma associação dos sintomas negativos com alterações morfológicas, sobretudo com a dilatação dos ventrículos laterais do cérebro.
O receptor D1 está ligado à enzima adenilciclase e tem maior afinidade por antagonistas do que por agonistas dopaminérgicos. Já o receptor D2 não está ligado a adenilciclase e tem alta afinidade tanto por agonistas como por antagonistas. Quanto a estes últimos, constatou-se que é a afinidade pelo receptor D2 que melhor se correlaciona com os efeitos comportamentais dos neurolépticos clássicos, seja no animal de laboratório ou no homem. Em geral as funções dopaminérgicas parecem ser mediadas por receptores D2. O significado funcional dos receptores D1 não está satisfatoriamente esclarecido, mas parece que os dois tipos de receptores devem cooperar, a fim de eliciar uma típica resposta comportamental dopaminérgica. Neste sentido, resultados obtidos em laboratório indicam um efeito facilitatório de receptores D1 sobre o comportamento mediado por receptores D2. Assim, tanto os antagonistas seletivos de receptores 1 quanto de receptores D2 inibem a motricidade e induzem catalepsia. Além disto, a hiperatividade e estereotipias induzidas por agonistas D2 podem ser bloqueadas tanto por antagonistas D1 como D2.
A liberação de DA é modulada por receptores pré-sinápticos, localizados nos terminais nervosos, denominados auto-receptores. Através do uso de técnicas eletrofisiológicas auto-receptores somatodendríticos foram também encontrados nos neurônios A9 e A10, cuja função é regular o ritmo de disparos dos neurônios dopaminérgicos. Estes auto-receptores são do tipo D2 e mostram-se cerca de 10 vezes mais sensíveis aos efeitos da dopamina ou da apomorfina que os receptores pós-sinápticos. A caracterização bioquímica, farmacológica e funcional dos auto-receptores indica que eles são ativados por agonistas dopaminérgicos levando a uma redução na síntese e liberação de dopamina pelos terminais nervosos. Acredita-se que os agonistas de auto-receptores possam se opor ao hiperfuncionamento do sistema dopaminérgico. A estimulação do auto-receptor de dopamina associada ao bloqueio dos receptores pós-sinápticos tem sido proposta como uma abordagem terapêutica no tratamento dos distúrbios neuro-psiquiátricos que resultam da hiperfunção dopaminérgica.
Existem algumas restrições à hipótese dopaminérgica da esquizofrenia. É difícil extrapolar do mecanismo de ação de um agente terapêutico para processos fisiopatológicos. Sem dúvida, a ação farmacológica pode produzir alterações secundárias que poderiam compensar os distúrbios primariamente induzidos pela doença. Um modelo para essa situação foi elaborado por Sachar (1985), segundo esse modelo, o autor considera a situação de quatro neurônios pré-sinápticos (dois excitatórios e dois inibitórios), cada qual contendo um neurotransmissor diferente, que convergem para o mesmo neurônio pós-sinaptico. Se a esquizofrenia resulta do hiperfuncionamento de um dos neurônios inibitórios, como por exemplo o excesso na liberação de seu neurotransmissor, a melhora dos sintomas da doença pode ser obtida pelo bloqueio da ação da dopamina, o outro neurotransmissor inibitório, resultando daí uma redução do conjunto das influências inibitórias sobre a célula pós-sináptica.
Um outro processo de interação entre neurotransmissores é representado pela síndrome parkinsoniana, esta síndrome é um dos principais efeitos colaterais dos neurolépticos, resultando de um bloqueio de receptores DA no estriado e é revertida por drogas anticolinérgicas.
São ainda escassas as evidências diretas que demonstram o aumento da atividade dopaminérgica na esquizofrenia. Além disso, os neurolépticos não apresentam eficácia contra os sintomas negativos da esquizofrenia, como embotamento afetivo etc, enquanto se mostram benéficos no alívio dos sintomas positivos, que incluem alucinações, delírios e desordens do pensamento. Ademais, A.V. Mackay chamou a atenção para o fato de que na esquizofrenia, na sua fase tardia, ocorre um déficit crônico de dopamina, como atestam os baixos níveis de seu principal metabólito, o ácido homovanílico (AHV), medido no líquor destes pacientes. Como conseqüência do reduzido metabolismo da dopamina ocorre um acúmulo deste neurotransmissor no terminal pré-sináptico e uma proliferação compensatória dos receptores pós-sinápticos, propondo esse autor que os sintomas negativos estão associados com uma redução da atividade dopaminérgica. Os sintomas positivos emergem como resultado da passagem de déficit para um aumento da liberação pré-sináptica da dopamina, a qual interage com o número excessivo de receptores dopaminérgicos levando ao quadro característico da esquizofrenia em fase aguda.
Existe uma dissociação temporal entre os efeitos bioquímicos e terapêuticos dos antipsicóticos. Seus efeitos bioquímicos são imediatos, por exemplo a elevação dos níveis de prolactina ( o fator inibitório da prolactina liberado no eixo hipotálamo- hipofisário é provavelmente a dopamina), enquanto que o curso temporal do efeito terapêutico dura algumas semanas. Esta diferença entre os cursos temporais dos efeitos bioquímicos e clínicos pode refletir efeitos secundários e mais lentos dos neurolépticos sobre outros sistemas neuronais, ao longo de algumas semanas, após o bloqueio inicial do sistema dopaminérgico. Uma outra alternativa para explicar esta dissociação é o chamado bloqueio de despolarização, pois recentes estudos têm demonstrado que os neurolépticos produzem um bloqueio de despolarização sobre os neurônios do grupo celular A10, que se desenvolve lentamente, produzindo uma redução da atividade dopaminérgica mais eficaz que a resultante do bloqueio de receptores DA pós-sinápticos.
Cabe ressaltar, quanto às interações entre o sistema dopaminérgico e processos mediados por outros neurotransmissores, a alças multimediadas de retroalimentação negativa, na mais conhecida, a dopamina liberada de terminais nervosos estimula receptores dopaminérgicos pós-sinápticos situados em neurônios colinérgicos. Estes fazem sinapses com neurônios GABAérgicos que, por sua vez, inibem os neurônios liberadores de dopamina. Acredita-se que estas alças de retralimentação constituem a maior influência modulatória sobre a atividade de neurônios dopaminérgicos na substância negra e que uma deficiência de GABA em vias límbicas pode estar envolvida em algumas formas de esquizofrenia.
Os hormônios circulantes parecem influenciar também a atividade dopaminérgica, pois o hormônio sexual luteinizante (LH), secretado pela hipófise, parece inibir o funcionamento da via dopaminérgica mesolímbica. A redução dos níveis deste hormônio pode refletir distúrbios hipotalâmicos ou na função do sistema límbico em pacientes psicóticos. Como a esquizofrenia tem início geralmente na adolescência, quando normalmente ocorre grande aumento da secreção desse hormônio, pode-se conceber que a inibição da via mesolímbica dopaminérgica poderia ser maior neste período e que ela seria deficiente em pessoas suscetíveis à esquizofrenia. Ademais situações de estresse ambiental liberam ACTH e endorfinas na circulação e aceleram a velocidade de síntese e taxa de liberação da DA no SNC, o que pode estar relacionado com o fato de que os surtos são precipitados por situações estressantes.


Hipótese Serotoninérgica:

A partir da investigação com o LSD, mostrando que essa substância atua como agonista de auto-receptores de corpos celulares, diminuindo a freqüência de disparo de neurônios serotoninérgicos da rafe dorsal e a conseqüente liberação de serotonina (5-HT) nos terminais nervosos. Mecanismos serotoninérgicos têm sido implicados na gênese da esquizofrenia. Sabe-se que baixos níveis liquóricos do ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA), principal metabólito da serotonina, apresentam sinais de impulsividade e são propensos a cometer atos violentos contra si próprios ou contra os outros. Baixos níveis de 5-HIAA no cérebro têm sido associados com sintomas da esquizofrenia. Acrescenta-se ainda a presença de alterações morfológicas no cérebro que estão associadas à esquizofrenia, tais como atrofia cortical e ventrículos laterais aumentados quando seus cérebros são visualizados pela tomografia computadorizada.
Há evidências que parecem implicar a 5-HT na esquizofrenia, relativas aos compostos que são antagonistas seletivos dos receptores do tipo 5-HT3, esses compostos são capazes de antagonizar a hiperlocomoção gerada pela infusão prolongada de dopamina no núcleo accumbens de ratos.


Postado por: Lucas Faria; Carolina Araújo

domingo, 25 de julho de 2010

Diagnóstico

Para fazer o diagnóstico, o médico realiza uma entrevista com o paciente e sua família, visando obter uma história de sua vida e de seus sintomas, o mais detalhadamente possível. Até o presente momento não existem marcadores biológicos próprios dessa doença nem exames complementares específicos, embora existam evidências de alterações da anatomia cerebral demonstráveis em exames de neuro – imagem e de metabolismo cerebral sofisticados, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética.
Além de fazer o diagnóstico, o médico deve tentar identificar qual é o subtipo clínico que o paciente apresenta. Essa diferenciação se baseia nos sintomas que predominam em cada pessoa e na evolução da doença que é variada conforme o subtipo específico. Os principais subtipos são:

Paranóide (predomínio de delírios e alucinações).

Desorganizada ou Hebe frênica (predomínio de alterações da afetividade e desorganização do pensamento).

Catatônico (alterações de motricidade).

Simples (diminuição da vontade, empobrecimento do pensamento e isolamento social).

Residual (estágio crônico da doença com muita deterioração e pouca sintomatologia produtiva).


TRATAMENTO:
As medicações antipsicóticas ou neurolépticos são usadas para a recuperação dos esquizofrênicos. Elas atuam diminuindo os sintomas (alucinações e delírios), procurando restabelecer o contato do paciente com a realidade. As medicações antipsicóticas controlam as crises e ajudam a evitar uma evolução mais desfavorável da doença.
Em crises mais graves, ou em que não houve resposta às medicações, pode-se fazer uso da eletroconvulsoterapia (tratamento psiquiátrico no qual são provocadas alteraçoes na atividade elétrica do cérebro induzidas por meio de eletrochoques nas têmporas, sob condição de anestesia). Esse método é bastante seguro e eficaz para melhora dos sintomas. Outra possibilidade são as abordagens psicossociais como o acompanhamento psicoterápico e a terapia ocupacional e familiar, que são, também, fatores importantes para reinserção social e diminuição dos casos de recaídas.

Postado por: Pedro Moscardini

Quadro sintomático

Geralmente, os primeiros sintomas são: dificuldade de concentração, prejudicando o rendimento nos estudos e no trabalho; estados de tensão de origem desconhecida mesmo pela própria pessoa; insônia e desinteresse pelas atividades sociais com conseqüente isolamento.
Os sintomas podem variar de acordo com cada paciente, mas, em geral, são:

Delírios - o indivíduo crê em idéias falsas, irracionais ou sem lógica. Em geral, são temas de perseguição, grandeza ou sobre misticismos.

Alucinações – a pessoa percebe estímulos que não existem, como ouvir vozes e pensamentos e enxergar pessoas ou vultos. As mais comuns nos esquizofrênicos são as auditivas. O paciente geralmente ouve vozes depreciativas que o humilham, falam mal, ordenam atos que os pacientes reprovam, ameaçam, conversam entre si falando mal do próprio paciente. Pode ser sempre a mesma voz, podem ser de várias pessoas, podem ser vozes de pessoas conhecidas ou desconhecidas, podem ser murmúrios incompreensíveis, ou claras e compreensíveis. Da mesma maneira que qualquer pessoa se aborrece em ouvir tais coisas, os pacientes também se afligem com o conteúdo do que ouvem, ainda mais por não conseguirem fugir das vozes. Alucinações visuais são raras na esquizofrenia. Sempre que surgem, devem pôr em dúvida o diagnóstico, favorecendo perturbações orgânicas do cérebro.

Discurso e pensamento desorganizado – o paciente esquizofrênico fala de maneira ilógica e desconexa, demonstrando uma incapacidade de organizar o pensamento. Em uma seqüência lógica.

Expressão das emoções – o doente tem um “afeto inadequado ou inexistente”. Ou seja, uma dificuldade de demonstrar a emoção que esta sentindo. Possui dificuldade de modular afeto de acordo com a situação, mostrando-se indiferente a diversos fatos do cotidiano.

Alterações de comportamento – os pacientes podem ser impulsivos, agitados ou retraídos, muitas vezes apresentando riscos de suicídio ou agressão; além de exposição moral, como por exemplo, falar sozinho em voz alta, ou andar sem roupa em público.

Falta de motivação e apatia - Esse estado é muito comum, praticamente uma unanimidade nos enfermos. O paciente não tem vontade de fazer nada. Fica deitado ou vendo TV o tempo todo. Freqüentemente, a única coisa que faz é fumar, comer e dormir. Descuida-se da higiene e aparência pessoal. Os pacientes apáticos não se interessam por nada, nem pelo que costumavam gostar.

Isolamento social - O isolamento é praticamente uma conseqüência dos sintomas acima. Uma pessoa que não consegue sentir nem se interessar por nada, cujos pensamentos estão prejudicados e não consegue diferenciar bem o mundo real do irreal, não consegue viver normalmente na sociedade.

Postado por: Carolina Araújo

Desenvolvimento da doença

Nos dias atuais não se conhece nenhum fator específico causador da esquizofrenia. Há, no entanto evidências de que seria decorrente de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais que contribuíram em diferentes graus para o aparecimento e desenvolvimento da doença. Mostraremos algumas das teorias mais discutidas por especialistas que justificam as causas desta doença.

Teoria Bioquímica:
A mais aceita em parte devido ao sucesso das medicações: as pessoas com esquizofrenia sofrem de um desequilíbrio neuroquímico, portanto falhas na comunicação celular do grupo de neurônios envolvidos no comportamento, pensamento e senso-percepção (em próximo momento falaremos de uma forma mais aprofundada sobre o assunto).

Teoria do Fluxo Sangüíneo Cerebral:
Com as modernas técnicas de investigação das imagens cerebrais (Tomografia por Emissão de Pósitrons- TEP) os pesquisadores estão descobrindo áreas que são ativadas durante o processamento de imagens sejam elas normais ou patológicas. As pessoas com esquizofrenia parecem ter dificuldade na "coordenação" das atividades entre diferentes áreas cerebrais. Por exemplo, ao se pensar ou falar, a maioria das pessoas mostra aumento da atividade nos lobos frontais, juntamente a diminuição da atividade de áreas não relacionadas a este foco, como a da audição. Nos pacientes esquizofrênicos se observa anomalias dessas ativações. Por exemplo, ativação da área auditiva quando não há sons (possivelmente devido a alucinações auditivas), ausência de inibição da atividade de áreas fora do foco principal, incapacidade de ativar como a maioria das pessoas, certas áreas cerebrais.
A TEP mede a intensidade da atividade pelo fluxo sangüíneo: uma região cerebral se ativa, recebendo mais aporte sangüíneo, o que pode ser captado pelo fluxo sangüíneo local. Ela mostrou um funcionamento anormal, mas por enquanto não se sabe a relação de causa e efeito entre o que as imagens revelam e a doença: ou seja, não é conhecido se as anomalias, o déficit do fluxo sangüíneo em certas áreas, são a causa da doença ou a conseqüência da doença.

Teoria Genética:
Nas décadas passadas vários estudos feitos com familiares mostrou uma correlação linear e direta entre o grau de parentesco e as chances de surgimento da esquizofrenia. Pessoas sem nenhum parente esquizofrênico têm 1% de chances de virem a desenvolver esquizofrenia; com algum parente distante essa chance aumenta para 3 a 5%. Com um pai ou mãe aumenta para 10 a 15%, com um irmão esquizofrênico as chances aumentam para aproximadamente 20%, quando o irmão possui o mesmo código genético (gêmeo idêntico) as chances de o outro irmão vir a ter esquizofrenia são de 50 a 60%.A teoria genética, portanto explica em boa parte de onde vem a doença. Se explicasse tudo, a incidência de esquizofrenia entre os gêmeos idênticos seria de 100%.

Teoria Biológica Molecular:
Especula-se a respeito de anomalias no padrão de certas células cerebrais na sua formação antes do nascimento. Esse padrão irregular pode direcionar para uma possível causa pré-natal da esquizofrenia ou indicar fatores predisponentes ao desenvolvimento da doença.


Postado por: Lucas Faria